Quando perguntamos aos moradores do
Jardim Tomé
e arredores sobre suas necessidades, uma saltou aos olhos:
a de deixar os filhos em um lugar seguro enquanto trabalhavam. Na região onde a Acorde está inserida, divisa entre os munícios de Embu das Artes e Cotia, esta não era uma opção. Hoje em dia, mãe de duas meninas, percebo esta necessidade de um lugar muito mais real e verdadeiro. Do núcleo da minha família, divido com as famílias do Tomé e região a mesma preocupação amorosa.
Com apoio de uma consultoria especialista em processos socioeducativos, acrescentamos à necessidade apresentada originalmente uma camada nossa: a intenção de facilitar o processo de desenvolvimento do indivíduo para que possam crescer para serem a expressão máxima de si próprios. Para qualquer criança, em qualquer lugar do mundo, este é o nosso desejo. Da convergência destes pontos nasceu a Acorde, em julho de 2001. Acorde, imperativo de acordar, despertar. Como organização social, nos propomos a atuar em uma região específica, conscientes que somos um ponto em um grande sistema.
A mudança que ocorre por meio dos processos socioeducativos da Acorde pode ser observada por meio das histórias contadas
https://www.acorde.org.br/historias
pelas próprias crianças e jovens, pelos educadores e famílias que acompanham seu crescimento. Neste facilitar, um observar atento é imprescindível, bem como a habilidade de diferenciar os elementos que trazemos em nós (formado por nossas histórias de vida, heranças familiares, cultura regional) do fenômeno que observamos: a criança e seu processo único de desenvolvimento. Spinoza, um dos inspiradores da prática da Acorde, dizia:
“Quanto mais entendemos processos individuais, mais entendemos o divino” (*Miller; xviii).
Desta forma, por meio das oficinas oferecidas somos facilitadores de processos individuais e coletivos, o que em si é uma arte que se sobrepõe e vai além das habilidades de ensinar uma prática específica, como artes, esporte, culinária ou teatro. E por meio do processo educativo que o desenvolvimento do indivíduo acontece não apenas nas crianças e jovens, mas nos adultos que as cercam, o que requer consciência, observação acurada e um processo constante de ação-aprendizagem.
Com reverência à beleza e complexidade do propósito do trabalho da Acorde, chego no objetivo deste post: agradecer. À Maria Eugênia (Noca), ao Abuin, à Dafner, à Iris, ao Lucas e ao Will, e aos educadores que por aqui passaram nestes 20 anos, agradecemos a coragem com a qual enfrentam o desafio diário do desenvolver (em si e no outro) as habilidades humanas individuais e coletivas que acreditamos serem a chave para uma vida mais plena e uma sociedade mais justa.
Joana Mortari
Diretora da Acorde
*Miller, G. Introdução ao livro “A Metamorfose das Plantas” de Johann Wolfgang Von Goethe. MIT Press, USA